Edição 20h50 O Estado de S. Paulo. Julio Mesquita (1891-1927) Diretor Ruy Mesquita. Quarta-feira 21 de Março de 2007. Ano 128 – No. 41.427. www.estado.com.br SP, RJ, MG, PR e SC R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2
CADERNO 2. D3
Botero dá peso à programação
Pintor conhecido pelas figuras gordinhas abre comemorações com a exposição A Dor dos Colombianos
CAMILA MOLINA –
Na programação dedicada aos 18 anos do Memorial da América Latina – a data redonda foi 18 de março -, a mostra A Dor dos Colombianos, por Botero, que será inaugurada amanhã para convidados e na sexta para o público na Galeria Marta Traba, é “o momento alto”, como diz o presidente da Fundação Memorial, Fernando Leça. O colombiano Fernando Botero, o “pintor de gordinhas e gordinhos”, é um tanto conhecido no mundo (e muito valorizado em leilões internacionais),um chamariz que pode atrair publico diverso. A mostra, patrocinada pela Nossa Caixa – mais Leça não revela o valor –, reúne 67 obras (pinturas e desenhos), realizados entre 1999 e 2004, e doadas pelo artista em 2004, ao Museu Nacional da Colômbia, em Bogotá.
Botero nasceu em Medellín, mas não vive na Colômbia há quase 40 anos – está radicado em Itália. Apesar de não estar em seu país natal, ele “se sente muito próximo ao que ocorre na Colômbia e preocupa-o a crise que afronta a nação”, afirma Elvira Cuervo de Jaramillo, diretora do Museu Nacional da Colômbia. Nesta série, o artista reforça, por meio de sua obra figurativa, a violência em várias instancias. São “testemunhos da barbárie”, Sugere Santiago Londoño Vélez, em texto presente no catálogo da mostra, que ficara em cartaz até 26 de abril.
As figuras de formas arredondas – gordinhas e gordinhos – ainda estão nas telas, mas representados amordaçados e vendados, como prisioneiros, mortos e comidos por urubus, chorando seus filhos assassinados. O uso do exagero dos elementos em suas composições, no caso desta série, não revela um lado humorístico, como em outras obras, mas, pelo contrário, “é um testemunho sobre um momento tão irracional de nossa história”, afirma o artista em depoimento – é a Colômbia o país que vive uma guerra interna entre as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (Farc) e o governo (e o povo é a grande vítima, diariamente). É curioso como Botero vem abordando ultimamente a violência: em trabalhos recentes, exibidos mundo afora, ele exibiu pinturas e desenhos sobre Abu Ghraid, prisão iraquiana transformada em câmara de tortura pelo Exército americano.
Além de sua mostra, a Memorial vai inaugurar na terça-feira, na Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, uma exposição em homenagem ao arquiteto Oscar Niemayer. Com curadoria do arquiteto Rodrigo Queiroz, de FAU-USP, a mostra reunirá croquis, desenhos de arquitetura e de projetos técnicos utilizados para a construção de Memorial, fotos de Pedro Ribeiro tomadas durante a construção, livros raros e exibição contínua de vídeo inédito com Niemayer. E como adianta Fernando Leça, em junho, a Galeria Marta Traba (curiosamente, o espaço foi concebido pelo arquiteto para ser um restaurante, mas depois, na gestão de Fábio Magalhães, se transformou em espaço expositivo) vai abrigar outra mostra sobre Niemayer, acompanhada de lançamento de livro.
Ainda entre as exposições de destaque na programação, vale lembrar que a grande fotógrafa Maureen Bisilliat exibe no Pavilhão da Criatividade, até 19 de abril, a mostra No Coração da Festa – Cenas Populares, com imagens e objetos sobre festas populares brasileiras.
Serviço
Memorial da América Latina. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-4600